Giro 2016 – Os 10 melhores na briga pela Maglia Rosa

1 – Johan Esteban Chaves (Orica-GreenEdge) – É a América do Sul brigando pela vitória do Giro!

O colombiano natural de Bogotá, estrela da equipe australiana, Orica GreenEDGE, é um daqueles atletas que podem surpreender tanto em subidas curtas e inclinadas, quanto nas maiores montanhas. A capacidade de subir do jovem de 26 anos, 1,66m de altura e 55kg, é inacreditável. Em seu currículo consta a vitória no Tour de l’Avenir, em 2011, conhecido como um mini Tour de France, voltado para atletas da categoria sub-23 e que alguns consideram a prova mais dura da categoria no mundo, sendo vencida por grandes nomes, como Nairo Quintana, Bauke Mollema e Denis Menchov.

Em 2015, Chaves provou que pode ser competitivo em grandes voltas, vencendo duas etapas na Vuelta de España, além do crono por equipes e vestindo a camisa de líder por 5 etapas. Ao final da Vuelta terminou em quinto lugar geral, devido ao cansaço acumulado na última semana. Com isso a experiência adquirida no ano passado pode ser de muito valor neste Giro de 2016.

Apesar disso algumas dúvidas surgem, pois em 2016 não tem conseguido bons resultados, competiu pouco e optou por fazer a preparação do Giro em sua região natal na Colômbia, onde mora a mais de 2500m de altitude, o que pode ser interessante se o objetivo é estar bem na terceira semana, sem tanta carga de competições (como os outros atletas) e com uma capacidade respiratória aumentada devido à altitude em momento de pico. É justamente isso que tem feito os colombianos tão bons no ciclismo, o esporte número 1 naquele país.

Outras questões pairam sobre a equipe, que não possui gregários de peso para ajudar o pequeno colombiano, que pode ficar exposto em etapas de montanha e até mesmo em etapas mistas. É esperar para ver.

2 – Tom Dumoulin (Giant-Alpecin) – O holandês voador, em versão atualizada!

Até agosto de 2015, o gigante holandês Tom Dumoulin era considerado um especialista em provas de contra-relógio individual. Na Vuelta a España de 2015 ele teve seus melhores resultados em toda sua carreira, vestindo a camisa de líder durante 6 dias e perdendo-a na última e derradeira etapa, na qual além de perder a liderança, caiu para a longínqua 6a posição na geral. Venceu as etapas 9 e 17 (crono individual), além do prêmio de combatividade.

Este ano, após magros resultados em voltas de uma semana, mostrou que está em boa forma no Tour de Romandie, prova essa que terminou 5 dias antes do Giro, e na qual ele ficou em 5o na geral, mostrando que está vindo com tudo para este Giro, e com o longo contra-relógio de 40km na 9a etapa, o holandês pode abrir uma grande vantagem sobre seus rivais escaladores.

Da mesma forma dita sobre Esteban Chaves, Tom Dumolin também não possui uma equipe com bons gregários, a equipe na verdade é focada em sprints e clássicas na maior parte da temporada, nas quais o alemão John Dagenkolb costuma trazer grandes resultados, como vitórias na Paris-Roubaix e Milão-São Remo. Nesta temporada de 2016, a equipe sofreu um grave acidente no qual vários atletas treinavam na Espanha, e foram surpreendidos por uma mulher idosa dirigindo na contramão, fazendo com que quase acabasse com a vida de alguns atletas da equipe. O mais prejudicado foi justamente Dagenkolb, que teve um dedo amputado e passou por algumas cirurgias, com isso, a equipe hoje amarga a antepenúltima posição no ranking WorldTour e uma vitória no Giro com Dumoulin poderia injetar esperança e novos ânimos neste ano tão difícil para a Giant-Alpecin.

3 – Alejandro Valverde (Movistar) – Multivalente!

Se em alguma prova você ver o nome de Alejandro Valverde e nesta prova houver montanhas ou chegadas em subidas duras e inclinadas, pode ter certeza, ele irá buscar a vitória.

O atleta espanhol, campeão do Ranking Mundial por 3 anos, múltiplas vezes campeão de clássicas como Fleche-Wallonie, Liege-Bastogne-Liege, Clássica de San Sebastian, vencedor da Vuelta a España e em várias Voltas de uma semana, além de cinco medalhas em mundiais (mas nunca venceu um mundial), provam que além de multivalente, Alejandro pode vencer sprints em pequenos grupos após 200km nas mais duras montanhas, o que é primordial para conseguir bônus por segundos das etapas, ajudando a melhorar a posição geral ao longo da Volta.

Valverde, apesar da vasta experiência em Grandes Tours não possui em seu currículo uma participação no Giro d’Italia. Sua equipe (Movistar) vem muito bem preparada, com excelentes escaladores, para levar seu líder pelas montanhas do Giro e quem sabe levá-lo a sua segunda vitória em uma Grande Volta. A primeira vez em que ele venceu foi na Vuelta a España, em 2009.

4 – Mikel Landa (Sky) – O arquiteto das montanhas

Contratado pela Sky justamente para vencer o Giro devido à sua surpreendente capacidade de escalar as montanhas mais duras, o ex estudante de Arquitetura espanhol que largou os estudos para se dedicar ao ciclismo, terá de enfrentar sua maior dificuldade neste giro: o contra-relógio, e isso já tem hora, local e distância marcados, serão 40km, e na 9a etapa.

No Giro do ano passado, apesar de ter demonstrado uma excelente forma para subir, foi no crono de quase 60km, vencido por Vasili Kyrienka (atual campeão mundial de Crono da equipe Sky), que Landa perdeu incríveis 4min para Aberto Contador. No final do Giro, sua distância para Alberto Contador foi de 3min5s, ou seja, se tivesse feito um crono melhor, a vida do gregário poderia ter sido outra e talvez pudesse melhorar sua posição final que foi o terceiro lugar.

Durante todo o inverno, a Sky procurou utilizar seus melhores recursos para melhorar a capacidade de Landa em fazer melhores cronos, este realmente é um ponto de melhoria para o atleta basco. Nestes testes de inverno, a equipe leva os atletas para o túnel de vento e todas as condições e equipamentos são testados, os atletas descobrem qual a melhor posição a ser mantida durante a prova e como cada fator pode influenciar no rendimento final.

Apesar de toda a pressão que um evento desse gera, Landa é um daqueles atletas calmos e confiantes, é ai que reside a sua força, talvez por acreditar que o tempo perdido no crono, possa ser recuperado na próxima etapa de montanha, e essas vão aparecer, e serão várias.

Além da capacidade de subir bem, Landa conta com um time inteiramente montado para ajudá-lo, com excessão de Elia Viviani, que estará em busca de vitórias em sprints (por sua conta e risco) e, mais tarde na temporada, irá buscar o ouro olímpico na prova de Omnium (pista) contra Cavendish, Gideone, Gaviria e cia. O resto da equipe Sky estará no Giro para colocar aquele ritmo infernal nas montanhas e deixar Landa o mais próximo possível da vitória.

Mikel Landa vem de vitória no Giro del Trentino prova que aconteceu no final de Abril e na qual ele também foi premiado como melhor escalador.

 5 – Domenico Pozzovivo (AG2R La Mondiale) – Dr. Pozzovivo?

O pequeno atleta italiano de 1,65m e 53kg, especialista em subidas, possui um extenso currículo de bons resultados, e isso chamou a atenção da equipe francesa AG2R que o contratou em 2013 justamente para poder vencer o Giro. No início da carreira, teve grandes resultados na equipe italiana Ceramica Panaria, vencendo etapas do Giro e sempre brigando pela geral em Voltas de uma semana, naquela época estudou economia e é conhecido no pelotão como “Dr. Pozzovivo”.

Em 2015, enquanto estava na sua melhor forma da carreira, sofreu uma queda fortíssima numa curva estreita na primeira semana do Giro, na qual a roda da frente escorregou e ele bateu forte com a cabeça no chão, e assim quase aconteceu o pior. Felizmente, a recuperação foi rápida e um mês após o acidente colheu bons resultados no Tour da Suíça, onde terminou na 5a colocação geral.

No giro desse ano a meta da AG2R é simplesmente a vitória, a equipe está repleta de escaladores prontos para ajudar Pozzovivo e atrapalhar a vida dos concorrentes. É bom ficar de olho nele nas etapas mais duras de montanha, em que sua característica de escalador mais se evidenciam.

6 – Vincenzo Nibali (Astana) – O Tubarão da Cecília

Existem poucos atletas no pelotão atualmente que já venceram as três grandes voltas: Giro, Tour e Vuelta, os únicos são Vincenzo Nibali e Alberto Contador. Isso prova que Nibali, além de ser capaz de desempenhar grandes resultados, é consistente e consegue recuperar rápido as etapas mais duras e brigar pela geral com muita raça.

Apesar das características descritas acima, Nibali está com a corda no pescoço na equipe Astana, com um contrato para se encerrar no final do ano e com poucos resultados em 2016 (tirando a vitória no Tour de Oman e o sexto geral na Tirreno-Adriático), a pressão do chefe da equipe Alexandr Vinoukrov tem sido grande e o atleta não deve buscar nada a menos do que a vitória.

Uma informação importante a se salientar é a força que a equipe Astana costuma mostrar no Giro, sempre levando gregários que poderiam brigar pela vitória, como foi o caso de Mikel Landa ano passado. A Astana literalmente vai para as etapas de montanha para decidir a prova, colocam um ritmo infernal nas escaladas e fazem um belíssimo trabalho para seu líder. Este ano com a presença de uma Movistar e Sky com interesses de vencer a geral também, a disputa na cabeça do pelotão será uma aula de estratégia imperdível.

7 – Rigoberto Uran (Cannondale) – Será que esse ano ele consegue?

O colombiano natural de Urrao, cidade localizada numa altitude próxima dos 2mil metros ao nível do mar, na região da Antioquia, Rigoberto Uran tem sido uma revelação em seu país com dois vice-campeonatos no Giro, vitórias em clássicas, provas de uma semana e uma medalha de prata na última olimpíada (2012) em Londres. Mas hoje, Uran tem seu brilho apagado pelos resultados de outro colombiano: Nairo Quintana (que não participará do Giro para focar totalmente no Tour de France).

Após uma temporada 2015 difícil, com poucos resultados em Grandes Voltas e alguns resultados consistentes nas Voltas uma semana, 2016 é um ano em que o atleta busca dar a volta por cima e finalmente subir mais um degrau no Giro e ser o campeão, principalmente com a ausência de Nairo e Contador vencedores em 2014 e 2015 respectivamente.

A transferência para a equipe Cannondale nesta temporada parece ter sido uma excelente escolha e trabalhar com o técnico Jonathan Vaugthers pode ter sido aquela mudança de ambiente que faltava para a carreira seguir com melhores resultados.

8 – Ilnur Zakarin (Katusha) – Revelação Russa

Como em todos os esportes, a Rússia sempre teve bons atletas no ciclismo, seja no velódromo ou na estrada, os russos sempre foram uma pedra no sapato dos atletas dos países mais tradicionais como a Itália, França, Espanha e Bélgica. Mas nos últimos anos, poucos russos tem roubado a cena, e após a aposentadoria de Denis Menchov (vencedor do Giro em 2009 e da Vuelta de España em 2007) e do escândalo de Alexandr Kolobnev (ex-Katusha e atual Gazpromm, estará no Giro 2016) que na Liege-Bastogne-Liege de 2011 deixou Alexandr Vinoukrov da Astana vencer ao aceitar um cheque de 200mil euros, o ciclismo russo ficou um pouco apagado.

O aparecimento de Ilnur Zakarin é como encontrar um diamante bruto que pode ser lapidado e melhorado, isso foi visível ano passado, em que no Tour de Romandie o atleta russo bateu os melhores atletas do ProTour numa atuação digna de um grande campeão, com direito a furo de pneu no contra-relógio final e nem assim os caras pegaram o garoto.

Zakarin já conhece o Giro, correu em 2015 e venceu uma etapa e quase venceu a segunda após uma longa fuga nas montanhas. Este ano um novo atleta deve vir para a competição, com mais experiência e bagagem, e com uma equipe inteiramente voltada para ajudá-lo. Rein Taramae será co-lider, mas isso apenas se algo der errado com Zakarin, com isso é grande a chance que os europeus tenham uma nova pedra no sapato para tirar.

9 – Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo) – Subindo os degrais da escada da alta performance

A equipe holandesa Lotto-Jumbo possui um dos menores orçamentos do pelotão do World Tour, mas incrivelmente é uma das que mais geram novos talentos atualmente, com atletas jovens e já com destaque internacional como Wilco Kelderman, Moreno Hofland e Sep Vanmarcke. Steven Kruijswijk apareceu no Giro de 2015 onde tinha apenas a intenção de vencer etapas, mas aquela volta acabou se tornando uma descoberta para o holandês de 1,78m e 66kg, que acabou terminando na sétima colocação geral na prova.

Alguns detalhes poderiam até mesmo terem gerado uma posição melhor, já que o atleta perdeu tempo na primeira semana pois não tinha um time para ajudá-lo. Este ano a história pode ser outra, e a Lotto-Jumbo montou um esquadrão com seus melhores escaladores, incluindo a revelação eslovena Primoz Roglic, um atleta que saiu do Ski das olimpíadas de inverno e está sendo considerado uma das grandes revelações de 2016 nas montanhas, além de outros atletas como o experiente Bram Tanking e o novo contratado Enrico Battaglin, sendo que este último deve ter liberdade para atacar nas montanhas e talvez buscar a camisa de rei das montanhas.

A equipe também investiu na preparação dos atletas, que fizeram vários training camps na montanhosa ilha de Tenerife, nas Ilhas Canárias, visando o Giro. Com isso, grandes conquistas são esperadas do jovem holandês de 28 anos que deve brilhar neste Giro.

10 – Rafal Majka (Tinkoff-SaxoBank) – O gregário que virou líder

O ano era 2014, Rafal Majka era gregário do espanhol Alberto Contador no Tour de France, e numa etapa chuvosa e repleta de montanhas Contador caiu e acabou quebrando a perna, a equipe Tinkoff-SaxoBank na época não sabia o que fazer, pois havia apenas um líder, e nada mais. Algumas etapas mais tarde, Majka chegava em Paris com a camisa branca com bolinhas vermelhas, consagrando-o como o vencedor na categoria de rei da montanha e no currículo duas vitórias em etapa, que mostraram que o jovem polonês poderia ser muito mais do que um simples gregário.

Em 2014 o atleta venceu também a camisa de jovem talento no Giro e em 2015 subiu pela primeira vez no pódio de um Gran Tour, ao chegar em terceiro na Vuelta, mostrando que a curva de aprendizado e performance é crescente e o atleta chega ao Giro 2016 como um dos favoritos. Diga-se de passagem que a Vuelta 2015 foi uma das edições mais duras de todos os tempos, vencida pelo italiano Fabio Aru, da equipe Astana.

Para Majka, mais difícil do que vencer é sair da sombra de Alberto Contador, considerado atualmente o melhor atleta de Grandes Voltas (Tour de France, Giro d’Itália e Vuelta de España) em atividade, mas o polonês tem mostrado que neste Giro ele virá para deixar a sua marca. Já possui bons resultados na temporada e a hora de ir pra cima dos melhores do mundo é agora.

Veja aqui a análise das 10 primeiras etapas.

Veja aqui a análise das 11 últimas etapas.

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