Em tempos de Giro d’Itália, potenciômetro é mato!

Vivendo o dia a dia da primeira grande volta do ano, o Giro d’Itália, muitas informações são lidas e vistas constantemente e quase sempre nos soam, mas não sabemos ao certo o que são e/ou como funcionam. Por isso, hoje vamos falar um pouco do tal Potenciômetro e o que há por trás deles.

Perguntas como: “O que é um potenciômetro?”, “Como funciona?”, “Para que serve?”, “Que tipo de potenciômetro?”, etc; são normais, até porquê, esse é um acessório comum, principalmente para aqueles que buscam uma melhora na performance e treinam com base nas famosas planilhas de treino.

Um potenciômetro é um acessório usado para medir a potência que um atleta aplica sobre os pedais (Ah vá?!), servindo como complemento aos pulsômetros e velocímetros permitindo assim, programar os níveis dos treinos para uma prova ou pura e simplesmente conhecer e graduar o nível de esforço que se está aplicando a cada pedalada. O primeiro protótipo foi desenvolvido pela marca SRM em 1986 e seguem sendo referência na medição de potência para os ciclistas dos pelotões profissionais.

Potenciômetro SRM – 1989

Como disse anteriormente, o potenciômetro é uma ferramenta essencial para os atletas profissionais, visto que, necessitam além de planificar seus treinos, saber qual é o tipo de esforço que estão aplicando em cada momento da prova. Com esses dados conseguem preparar-se com antecipação para uma chegada em alto, para um sprint ou se aguentam atacar e manter a fuga até a linha de chegada.

Um potenciômetro mede o PAR (M=F*d) aplicado durante uma pedalada e converte-o em potência, conhecendo assim a velocidade angular, que vamos comentar no próximo parágrafo. O par, por sua vez, produz a deformação nos medidores que esticam ou encurtam os fios, fazendo com que isso aumente ou diminua a resistência elétrica. Essa variação na resistência é o que indica quanta força foi aplicada.

A velocidade angular média é medida através de acelerômetros ou ímãs. Os acelerômetros contêm uma massa fixada em uma mola que comprime uma malha na parte inferior. A compressão produzida gera uma força que é lida pela malha, sendo que a aceleração é proporcional a essa força; sabendo  a aceleração a todo momento, conseguimos saber a velocidade.

Bom, chega de física, vamos aliviar um pouco essa pedalada falando dos tipos de potenciômetros existentes no mercado. Existem vários tipos de medidores de potência: os que se baseiam no pedal, na aranha, no pedivela, no cubo, nos pedais, nos pratos, no movimento central e os que se baseiam em ambos, tanto prato quanto no movimento central.

Os medidores de potência baseados no pedal medem a potência de forma independente, de uma ou das duas pernas, logicamente, os que medem as duas pernas são mais precisos e disponibilizam informações mais detalhadas de cada pedalada. Os medidores de aranha trabalham com a medida combinada de cada perna, o que também pode ser mais precisos na hora de analisar os resultados.

Os medidores baseados no movimento central, ainda não estão tão difundidos no mercado, até porquê são poucas as empresas que dominam bem a produção, e posteriormente a qualidade deste tipo potenciômetro; ROTOR é uma delas, e além deste tipo de medidor de potência também tem os baseados em aranha, pedal e movimento central juntamente com o pedal.

O problema ao analisar dados provenientes de medidores de potência combinados (que fazem um cálculo estimado de cada perna ao invés de realmente medir cada perna de forma independente) é que não contam com a área de retorno da pedalada, a qual deveria ser levada em consideração, ainda mais com ciclistas, que dependem de segundos para ganhar ou perder um GT.

Como dissemos anteriormente, medidores de potência mais antigos dos que temos conhecimento são, os SRM com um protótipo datado há mais de 30 anos, e seguem sendo até hoje referência na precisão de medição. A primeira marca a mostrar uma competição de cara ao mercado foi a PowerTap, 13 anos depois do primeiro SRM, e são os únicos que medem no cubo.

A partir de 2010 houve um boom na indústria com o lançamento de numerosas marcas no mercado: Power2Max(2010), Stages, Pioneer e ROTOR (as três desde 2012), Quarq, Garmin Vector, Kéo Power Polar Look, etc. A grande maioria transmite via ANT+, mas pouco a pouco vão sendo introduzidos as transferências via Bluetooth, Inclusive algumas já vêm com os dois tipos de transmissão, podendo até ser feita através de um APP no celular.

Um medidor de potência trabalha com o que chamamos de Wattios; os watts, que indicam a quantidade de energía gasta num treinamento ou prova. Essa energia, por sua vez, é medida em quilocalorias, e a energia mecânica em kilojouls, portanto: 1quilocaloria = 4 kilojoulss (na verdade 4.184 mas não vamos entrar em detalhes). E de toda a energia que geramos, apenas 25% é convertida em energia mecânica; resumindo, quando você gera determinada força para mover sua bicicleta, apenas 1/4 dessa energia se transforma em movimento.

Chris Froome – SKY

Por isso o treinamento em watts é baseado em dois tipos: a potência media, que é basicamente a soma dos valores registrados durante o treino dividido pelo número total de registros; e a potência normalizada, que além de ter a potência media como base também temos a sensação do atleta durante o registro destes dados. A formação de planilhas de treinamento com potenciômetro são realizadas e executadas com maior precisão do que as planilhas baseadas nas zonas de ritmo cardíaco.

Para isso, é feito um teste que muitos de vocês já ouviram falar, e que tem como objetivo saber o FTP (Functional Threshold Power) do ciclista. Esse calculo é feito em um teste de uma hora, onde a NP(Potencia Normalizada) é comparada com o IF(Intensity Factor) que é o nível de intensidade mantido nessa hora. Com o FTP determinado, o ciclista por fim saberá exatamente as suas zonas de treinamento, as famosas Z1, Z2, Z3, etc.

Caso queiramos avaliar os níveis de treinamento de uma determinada semana, mês ou um simples intervalo de tempo, podemos usar o TSS (Training Stress Score) que serve como um medidor a se ter de parâmetro para regular o treinamento de forma geral. No teste de IF, o ciclista pode não ter aplicado demasiada força ou aplicado extrema força, o que acaba por dar um valor alterado, fazendo com que os dados gerados (para as zonas de treino) possam ocasionar os famosos “overtraining” e “undertraining”. Com o TSS pode-se regular o treinamento com o objetivo de equilibrar a atividade e fujir destes fenômenos mencionados.

Por fim, a conclusão que podemos oferecer é simples: um medidor de potência pode ser realmente útil, e até extremamente necessário no caso de um ciclista profissional ou alguém que queira preparar-se para uma prova especifica, tendo como meta uma maior precisão nos resultados dos seus treinos. Caso contrário é realmente uma coqueluche um pouco cara para as nossas pedaladas de fim de semana.

Dados de Peter Sagan e Michael Albasini no Tour da Suiça.

Froome, Sagan, Nibali e cia trabalham seus planos de treinos baseados nesse tipo de dados, mas vale lembrar que estes mesmos ciclistas que não tiram o olho do medidor em uma prova (estilo Froome de cabeça baixa e girando mais que um ventilador) também sabem da importância de ler o próprio corpo, sabendo dosar-se mesmo sem um medidor de potência.  Afinal, uma queda, ou mesmo um furo pode forçar o ciclista a ter que trocar de bicicleta, e para esta segunda geralmente não há nenhum tipo de potenciômetro, é na força bruta mesmo!