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Alejandro Valverde se consagra com título Mundial de Estrada

Por Ígor Donini.

Foram longos 17 anos de carreira profissional, desde que estreou na equipe espanhola Kelme-Costa Blanca em 2002, Alejandro Valverde, mais conhecido como “Bala” no pelotão, vem ano após ano tentando vencer o mundial de estrada. Antes da vitória, foram nada menos do que 7 pódios, e ontem, finalmente, a camisa arco-íris foi conquistada.

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Foi uma batalha de gigantes, sendo que apenas 76 ciclistas terminaram a prova e foram, simplesmente, os 76 melhores ciclistas do mundo. O atual tri-campeão do mundo Peter Sagan jogou a toalha bem cedo, sendo seguido por outros nomes de peso mais tarde, todos sentindo o cansaço de final de temporada e também o forte ritmo imposto pelas equipes da Grã-Bretanha e da Espanha, que forçaram muito o pelotão.

Após 200km de prova, o pelotão ficou mais enxuto, a fuga do dia, formada por ciclistas que queriam ter seu nome nas manchetes, chegou a abrir 18 minutos, mas com 5 horas de prova a energia dos escapados foi sendo minada pelo pelotão que vinha muito forte, embalado pelos gregários Jonatan Castroviejo (Espanha) e Tao Geogehan Hart (Grã Bretanha).

Um fato importante desse mundial foi que houve apenas 2 quedas de ciclistas e sem gravidade, mostrando que a UCI se preocupou com a segurança dos ciclistas e todos tiveram as mesmas condições de disputar a prova sem imprevistos ou catástrofes que sempre marcam as grandes provas do ciclismo.

As hostilidades começaram com o campeão olímpico Greg Van Avermaet (Bélgica) que atacou forte, mas foi instantaneamente anulado pela equipe da Grã Bretanha, mais tarde outros ciclistas tentaram a sorte, mas sem sucesso. O ápice da prova veio com o ataque de Peter Kennaugh (GB) que abriu forte na penúltima subida e foi seguido por Michael Valgren, dinamarquês que corre pela Astana e que acabou deixando o britânico comendo poeira.

Valgren pedalava com força e olhando o tempo todo em seu GPS, controlando cada pedalada para poder suportar os mais de 20km até a linha de meta, e ainda com uma dura subida ainda pela frente. O pelotão era embalado pela equipe da França, que tentava recuperar alguma ordem no caos, pois após o ataque de Valgren o pelotão se partiu em vários pedaços e muitos nomes de peso ficaram para trás.

O francês que vestiu a camisa de líder da Vuelta há algumas semanas, Rudy Molard, puxou o pelotão atrás de Valgren até o pé da subida final. Thibaut Pinot era o próximo francês na hierarquia e começou a subida final, chamada de Holl pelos austríacos, na ponta, mas Pinot não durou muito, de modo que Romain Bardet acelerou forte e causou o verdadeiro exorcismo no pelotão que já vinha com quase 250km de brutalidades nas pernas.

Bardet puxava forte para que Julian Alaphilippe estivesse nas melhores condições possíveis de disputar a vitória, e o grupo que se formou, por algumas centenas de metros rampa acima, continha Valverde, Moscon, Alaphilippe, Woods e Bardet.

O canadense Michael Woods, segundo na duríssima Liège-Bastogne-Liège desse ano, pegou a ponta e terminou o trabalho de Bardet, fazendo com que Alaphilippe e Moscon sobrassem, para desespero de Bardet, que acabou assumindo a liderança da equipe francesa após ter puxado muito forte e com pouco “combustível” no tanque.

Os três sobreviventes, Bardet, Woods e Valverde se digladiavam metro a metro na parede final, com Valverde sempre de roda, se resguardando para o final. Na perseguição vinha o italiano Moscon e Tom Dumoulin que fazia “cobrinha” para subir o morro.

A descida final foi a mais completa politicagem, suficiente para que Dumoulin encostasse, mas Moscon não chegou, de modo que o italiano poderia ser o maior risco para a vitória de Valverde. O grupo com três virou quatro com a chegada de Dumoulin que não teve forças para atacar de longe e nem para disputar o sprint.

Valverde abriu o sprint na ponta e veio de muito longe trazendo Woods e Bardet, mais tarde Valverde dizia que naquele momento ele era o cara que não poderia errar, teve que dar tudo e ainda jogou a bicicleta sobre a linha de meta, mesmo com uma distância folgada, pois o medo de perder esse título por mais um ano estava encravado em seu inconsciente. Após cruzar a linha de meta ele desabou, sendo segurado pelo massagista da equipe espanhola. Valverde é o novo campeão do mundo!

A notícia já ecoava mundo afora enquanto Valverde soluçava chorando, não acreditava, não compreendia, era só um sonho? Do outro lado da rua, Bardet estava indignado com seu segundo lugar e Woods também não acreditava que havia conquistado uma medalha em uma prova tão desumana, pela primeira vez o Canadá conseguiu um pódio no mundial de estrada Elite.

Foi uma prova para ser assistida várias e várias vezes, eu mesmo assisti de novo a última hora e percebi coisas que não havia visto no calor do momento, como o momento em que  Rui Costa deu socos em seu sti na subida final (sim, o Campagnolo eletrônico deu problemas na hora H).

Ainda que tenha sido uma prova decidida apenas nos quilômetros finais, considero esse mundial um caso à parte, uma prova que esteve acima de uma clássica dos Ardennes em muitos aspectos: não havia uma equipe com supremacia e as subidas eram mais duras que aquelas encontradas nas colinas belgas. Mas uma coisa é certa: a camisa arco-íris saiu dos ombros de um gigante (Sagan) e foi para os ombros de outro (Bala), foi um dia mágico!

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