Os números de potência no Tour de France 2023 são os mais altos da era moderna do ciclismo

Teve inicio hoje, terça-feira (11), a segunda etapa do Tour de France, mas na primeira semana tivemos cinco etapas montanhosas que já causaram o caos na classificação geral. Após inúmeros ataques, fugas, bônus de tempo e chegadas no topo das montanhas, apenas 17 segundos separam Jonas Vingegaard e Tadej Pogačar na luta pela camisa amarela. Mas esses 17 segundos foram de quase um min. quando o atual campeão do Tour de France, Vingegaard, abriu vantagem sobre Pogačar na etapa 5. Depois Pogačar se recuperou e conseguiu chegar na frente de Vingegaard na sexta e nona etapa, diminuindo a vantagem para apenas 17 seg.

E foi apenas a primeira semana. Teremos um espetáculo nas próximas duas semanas de prova, com montanhas como Grand Colombier, Col de Joux Plane e Col de la Loze a serem escaladas e podendo ser o palco de novas batalhas.

Os números de potência do Tour de France deste ano são os mais altos da era moderna do ciclismo. 7w/kg por 20 minutos é o novo padrão para competidores da geral, e muitos desses desempenhos ocorrem após 3, 4 horas de etapas, a 1.000-2.000 metros acima do nível do mar, com temperaturas acima dos 30°C.

Ao contrário de 2022, a Jumbo-Visma e o atual campeão Vingegaard não esperaram muito para testar Pogačar. Depois de cair na Liege-Bastongne-Liege, Pogačar não fez o treinamento ideal para o Tour e logo na etapa 5 de Pau para a Laruns, que incluia o Col du Soudet (15,2 km a 7%), o Col d’Ichere (4,2 km a 6,2%) e o Col de Marie Blanque (7,8 km a 8,4%), cuja média final de 4,8 km é de 10,5%, a Jumbo-Visma resolveu partir para o ataque.

Uma grande fuga impediu a vitória na etapa, mas a Jumbo-Visma fez um grande trabalhar para preparar o ataque de Vingegaard. Quando o dinamarquês saiu da roda de Sepp Kuss, Pogačar não respondeu. Vingegaard fez uma das melhores performances de escalada de sua carreira nas encostas mais íngremes do Col de Marie Blanque, mantendo quase 7 w/kg por mais de 20 minutos. O atual campeão do Tour continuou acelerando no topo da subida até a linha de chegada em Laruns, onde abriu um minuto e quatro segundos de vantagem sobre Pogačar.

Embora não se tenha acesso aos dados de potência de Vingegaard, é possível estimar com base nos dados de potência e tempos de outros ciclistas.

Em 2020, Pogačar, então com 21 anos, subiu o Col de Marie Blanque um minuto e meio mais lento que o tempo de Vingegaard em 2023, mas ainda assim venceu a etapa 9 do Tour de 2020, à frente de Primož Roglič e Marc Hirschi.

Pogačar, Roglic e Landa no Col de Marie Blanque, durante o Tour 2020

Pogačar – Col de Marie Blanque no Tour de France 2020
Tempo: 24:28
Potência média: 428 w (6,4 w/kg)
Últimos 2,5 km: 9:23 a 458 w (6,9 w/kg)
Vingegaard (2023): 22′ 56″ a ~6,9 w/kg

Após essa demonstração de superioridade, muitos acreditaram que estava praticamente definido o Tour de 2023. Além de acreditarem que Pogačar não estaria nem perto da forma física de Vingegaard,  também citavam que o pulso de Pogačar poderia não estar completamente curado.

Mas tudo isso mudou quando, menos de 24 horas depois, o esloveno contra-atacou em Cauterets-Cambasque (5,3 km finais a 7,5%).

Antes do ataque vitorioso de Pogačar, a Jumbo-Visma havia destruído a etapa faltando cerca de 40 km, no Col du Tourmalet (17 km a 7,4%). Subidas longas e de alta altitude são tipicamente a fraqueza de Pogačar, e a Jumbo-Visma achou que poderia quebrar o esloveno pelo segundo dia consecutivo.

Vingegaard saiu da roda de Kuss novamente com 4,7 km para o topo do Tourmalet, mas Pogačar permaneceu colado à sua roda. Ambos os ciclistas mantiveram uma média de cerca de 6,8w/kg por mais de 13 minutos, mas nenhum deles cedeu na lendária subida. Os 4,8 km finais do Tourmalet sobem de 1700m para 2100m, então esses números de potência são ainda mais impressionantes quando se considera a alta altitude.

O ciclista mais próximo de Vingegaard e Pogačar com dados de potência foi Steff Cras, que manteve uma média de quase 6w/kg por 15 minutos, mas ainda perdeu dois minutos para a dupla da frente.

Vingegaard e Pogačar no Tourmalet.

Pogačar – 4,7 km finais do Tourmalet
Tempo: 13:19
Potência média estimada: ~449 w (6,8 w/kg)
Steff Cras: 15′ 19″ a 360w (5,6 w/kg)

Após uma longa descida e uma subida, começaram as encostas finais da Côte de Cauterets. Vingegaard atacou novamente na seção de 10% da subida e continuou a liderar com Pogačar em sua roda. Mas, para surpresa de quase todos, Pogačar contra-atacou e superou Vingegaard, conquistando a vitória da etapa e recuperando 28 segundos para o atual campeão do Tour.

Esse resultado foi surpreendente, pois Vingegaard claramente não estava no seu melhor momento quando se analisam os dados de potência. Pogačar manteve uma média de cerca de 6,7 w/kg durante 13 minutos na Côte de Cauterets, enquanto Vingegaard conseguiu apenas 6,6 w/kg.

Michał Kwiatkowski estava na fuga e foi o único ciclista que conseguiu se manter próximo de Vingegaard e Pogačar na primeira parte da Côte de Cauterets. O ex-campeão mundial manteve uma média de potência de 6,5 w/kg atrás dos dois antes de finalmente sucumbir ao ritmo intenso.

Kwiatkowski depois de sobrar de Vingegaard e Pogačar, no Côte de Cauterets.

Kwiatkowski – Côte de Cauterets
Tempo: 16:22
Potência média: 342 w (5,2 w/kg)
Primeiros 1,3 km com Vingegaard e Pogačar: 4′ a 430 w (6,5 w/kg)
Pogačar: 13:00 a ~6,7 w/kg
Vingegaard: 13:24 a ~6,6 w/kg

Apenas 24 horas antes, Vingegaard manteve uma média de ~6,9w/kg por quase 23 minutos no Col de Marie Blanque. Portanto, no Côte de Cauterets ele teve um desempenho decepcionante o que pode ser um sinal de inconsistência de Vingegaard, de maior gasto energético frente ao esloveno, ou, talvez, ele tenha atingido seu pico muito cedo no Tour de France deste ano.

Veremos!