Tubarão de Messina faz obra-prima na Milano-Sanremo

Uma verdadeira obra-prima! Depois de 12 anos, um italiano venceu a primeira clássica monumento da temporada. Vicenzo Nibali atacou no Poggio e venceu escapado com o pelotão chegando logo atrás depois de uma perseguição infernal durante os últimos 6 quilômetros da prova de 294 Km.

Desde 2008 com Fabian Cancellara que não havia um vencedor escapado. Foi a terceira clássica monumento conquistada por Vicenzo Nibali, que venceu por duas vezes a Il Lombardia.

Nibali!

A Milano-Sanremo 2018 realmente começou, como na maioria das vezes acontece: uma fuga acontece, dura até pouco antes da Cipressa e a partir daí é que realmente as coisas acontecem.

Esse ano a fuga foi neutralizada faltando cerca de 30 quilômetros para o final e na Cipressa, Nibali já dava mostras que estava com a faca nos dentes e muito afim de lutar pela vitória. O pelotão andava rápido e para não ter surpresas o italiano foi para frente passando perigosamente ao lado de alguns carros. Apesar de bem colocando nada aconteceu durante a subida e tudo se encaminhou para o Poggio.

Pouco antes da entrada do Poggio o inglês Mark Cavendish, que estava voltando as provas depois de seu acidente no crono por equipes no Tirreno-Adriatico, trombou com um obstáculo que estava no meio da estrada e saiu voando, dando um mortal e caindo fortemente de costas no asfalto. Apesar do susto ele teve apenas outra costela fraturada. Devido ao tombo o pelotão se cortou e alguns ciclistas, entre eles Philippe Gilbert (Quick-Step Floors), não conseguiram voltar mais ao grupo principal.

Mesmo com o acidente um grupo grande fez a aproximação ao Poggio, que começa faltando 9 km do final. A subida – 3,7 km com um gradiente médio de 4% e máximo de 8% – é estreita e as equipes brigavam pelas primeiras posições. Eles iniciaram a subida com Matej Mohoric (Bahrein-Merida) na ponta, mas logo o campeão alemão Marcus Burghardt (Bora-Hansgrohe), iniciou as hostilidades. Ele atacou forte, mas apesar do esforço não conseguiu abrir muito. Jean-Pierre Drucker (BMC Racing) foi atrás dele, chegou e passou….

O grupo entrando no Poggio com Mohoric na ponta e o alemão Marcus Burghardt atacando.

A Bahrein vinha controlando a distância de Drucker que estava na frente sozinho, Burghardt já de volta ao grupo, quando o campeão nacional da Lituânia, Krists Neilands (Israel Cycling Team), escalou o pelotão e atacou. Parecia que seria mais um que iria andar sozinho na ponta, quando percebeu-se Nibali em sua roda. 

O pelotão, se desorganizou após o ataque de Nibali e a saída da Bahrein da ponta, e alguns ataques começaram a acontecer. Enquanto isso o italiano abria vantagem. Foi só quando Daniel Oss (Bora-Hansgrohe) assumiu a ponta do grupo na tentativa de ajudar Sagan que a diferença começou a diminuir, ou pelo menos estabilizar.

Os dois ponteiros rapidamente passaram por Drucker e abriram. Nibali revezou um pouco com Neilands enquanto Nathan Haas (Katusha-Alpecin) e Enrico Battaglin (LottoNL-Jumbo) tentavam encostar. 

Neilands e Nibali na ponta da prova, no Poggio.

Com seis quilômetros para o final Nibali atacou Neilands e partiu solo. Ele cruzou o final da subida e começou a descida de forma alucinante com 12 segundos de vantagem para o grupo perseguidor.

Nibali ataca Neilands e parte solo.

O grupo perseguidor também vinha rápido na descida e acabou fazendo vítimas, um deles foi Andre Greipel (Lotto-Soudal) que acabou caindo em uma das curvas e quebrou a clavícula.

Nibali que é reconhecidamente um ciclista que possui muita técnica para descer, terminou a descida com cerca de dez segundos para o grupo perseguidor que não conseguia andar mais rápido já que Oss já não conseguia ajudar. Sagan tentou escapar, Kwiato, mas foi Matteo Trentin (Mitchelton-Scott) que conseguiu se livrar da forte marcação e sair em busca do italiano.

Nibali não olhava pra trás, com um foco impressionante ele apenas pedalava com olhar fixo para frente fazendo toda força possível.

Trentin vinha bem e até diminuiu a diferença, mas com 1,3 km ele foi pego pelo grupo perseguidor que agora era conduzido pela Quick-Step Floors na tentativa de pegar Nibali e trazer o grupo para o sprint decisivo.

A cada imagem da moto, mostrando Nibali de frente e o grupo ao fundo, a impressão que dava é que ele seria pego. Já quando a câmera era a do helicóptero percebia-se que, apesar do trabalho da Quick-Step Floors, a diferença se mantinha grande.

Nibali olha pra trás para ter certeza de sua vitória.

Os quilômetros viraram metros e Nibali, observado por um público que ia a loucura, deu a primeira olhada para trás faltando pouco menos de 100 metros e percebeu que não seria mais alcançado.


Nibali cruzou a linha com os braços erguidos, em seguida vieram o australian Caleb Ewan (Mitchelton-Scott) e o francês Arnaud Démare (Groupama-FDJ).

Ewan, Nibali e Demare, o pódio da MSR 2018

O campeão mundial Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), terminou na sexta posição e o vencedor da prova em 2017, Michal Kwiatkowski (Team Sky), em decimo primeiro.

Após a chegada Nibali emocionado tentava explicar o acontecido:

“Preciso agradecer a equipe que andou perfeitamente”, “Logo depois que ataquei o pessoal me disse que tinha uma vantagem de 20 segundos, fiquei surpreso e sabia que o que tinha que fazer era pedalar. No final, quando olhei por cima do ombro e vi os velocistas percebei que não conseguiriam me pegar. Foi um bom momento para mim, mas é muito cedo para dizer se é a melhor vitória da minha carreira”.

“Foi incrível! A equipe estava andando para Colbrelli, que está em grande forma, quando Neilands atacou forte eu fui junto e quando vi que abrimos decidi continuar. No topo do Poggio, onde o gradiente é um pouco maior, eu acelerei, quando cheguei no final da descida comecei a acreditar que a vitória estava ao meu alcance. Mesmo assim, os últimos 2 km foram intermináveis.”

Colbrelli comemorando com Nibali a vitória.

“Antes da prova, eu tinha dois pontos principais em mente – a Cipressa, se houvesse uma tentativa de fuga de seis, sete ou mesmo nove, eu tentaria estar nela, mas não iria trabalhar. Depois, o Poggio, que é um lugar mais perigoso, onde um ataque de Kwiatkowski, Van Avermaet ou Sagan era provável. Eu estava bem posicionado no grupo atrás de Mohoric, esperando que alguém se movesse e eu reagisse a isso, e acabou sendo o que aconteceu.”

Maior jornal esportivo da Itália colocou Nibali na capa. Será quem um dia isso acontecerá por aqui?

Veja no vídeo os últimos quilômetros da prova:


Resultados finais: