Entrevista com Rafael Andriato

Um grupo de amantes do ciclismo se reuniu e fez uma série de perguntas para grandes ciclistas brasileiros. O projeto foi chamado de O PRINCIPAL e a primeira entrevista foi com o Rafael Andriato.

O PRINCIPAL

Conheça um pouco sobre os nomes do ciclismo nacional que estão em destaque

FICHA TÉCNICA

Data de nascimento: 20 de outubro de 1987 (30)
Local: São Paulo, São Paulo
Mora em Maringa/PR
Peso: 69 kg Altura: 1,77 m

Equipes

2018 Equipe de Ciclismo de Ribeirão Preto
2017 Wilier Triestina – Selle Italia (PCT)
2016 Wilier – Southeast (PCT) (A partir de 14/07)
2016 Memorial-Fupes-Santos
2015 Southeast (PCT)
2014 Neri Sottoli (PCT)
2013 Vini Fantini (PCT)
2012 Farnese Vini-Neri-Sottoli (PCT)
2011 Petroli Firenze
2010 Trevigiani Dynamon
2009 Trevigiani Dynamon
2008 Trevigiani Dynamon
2007 Memorial-Fupes-Santos
2006 Memorial-Fupes-Santos

Principais resultados

5x etapa Tour Do Rio (’14, ’13, ’11)
GP Industrie del Marmo (’11)
Chateauroux Classic de l’Indre Trophee Fenioux (’12)
Jurmala GP (’12)
2º Lugar Jurmala Grand Prix (’13)
4º Lugar Gran Premio Bruno Beghelli (’14)
etapa Sibiu Cycling Tour (’15)
etapa Tour of Hainan (’16)

Fonte principal: Pro Cycling Stats

PERGUNTAS

Digital Cycling: Em 2008, você foi o primeiro ciclista brasileiro beneficiado pelo projeto do Luciano Pagliariani “Revelando Talentos” que tinha como objetivo ajudar na ida de novos talentos brasileiros para a Europa. Logo depois de você o Manarelli e o Gideoni também foram, mas logo retornaram. Depois deles foram muito poucos os brasileiros que conseguiram assinar com alguma equipe européia e correr lá por algumas temporadas. O Nícolas Sessler, que assinou com a Burgos esse ano, parece que pode ser o próximo a figurar por mais tempo. Enfim….pra você, porque tão poucos ciclistas brasileiros conseguem fazer carreira na Europa?

Rafael Andriato: Competir na Europa é o sonho da maioria dos ciclistas e também foi o meu, agradeço muito ao Pagliarini pela oportunidade que nos deu, principalmente no inicio, a adaptação não é tão fácil quanto parece.
E, na minha opinião, o que dificulta bastante a ida de mais brasileiros para a Europa é o fato que poucos conseguem se destacar em provas de nível nacional e internacional antes dos 20, 21 anos, já que, pra chegar até uma equipe profissional, o ciclista precisa primeiro passar pelas categorias de base na Europa. Na Itália, por exemplo, existe a Dilettanti, que é uma categoria de 19 a 26 anos que conta com cerca de 30 equipes. São aproximadamente 500 ciclistas onde, em média, 10, no máximo 20 (depende de cada ano) atletas conseguem passar para o profissional. É uma peneirada gigante.

Valter Malta (Cornetas): Depois de voltar para o Brasil em 2016, depois de 8 anos na Europa, você logo retornou e parecia estar bem na Willier, onde teve um final de ano de 2016 fantástico e em 2017 muito bom também. Afinal, o que te fez voltar para o Brasil e quais são seus objetivos daqui pra frente, pensando que, com 30 anos, dificilmente voltará para Europa. Ou ainda está nos seus planos voltar?

Rafael Andriato: Realmente foi um retorno fantástico, acima da expectativa, principalmente no Tour de Hainan onde venci uma etapa, fui duas vezes segundo, duas terceiro, um quinto e dois sextos, me tornando vice-campeão da classificação por pontos (camisa verde).
Mas em 2017 as coisas não aconteceram como muitos esperavam, a distancia da família já estava pesando há alguns anos e com o nascimento do meu primeiro filho, que nasceu no final de 2017, decidi voltar em definitivo.

Papillon (Pelote): Rafael, quem te inspirou no ciclismo antes de ir para Europa e hoje, depois da experiência, quem te surpreendeu positivamente e negativamente no circuito? Também gostaria que falasse um pouco sobre como é a relação do fã do ciclismo europeu com o atleta profissional e no que isso diferencia do brasileiro?

Rafael Andriato: Iniciei no ciclismo com incentivo de meu Pai, pedalo desde os 10 anos de idade.
O tratamento dos Fãs do ciclismo na Europa é surpreendente e me deu muita satisfação competir por lá, principalmente na Bélgica onde acredito ser o país que mais ama o ciclismo no mundo, é algo fora do normal, em todas as competições pedem pra tirar foto, autografar camisas e nossas próprias fotos reveladas e pedem sempre uma lembrança, caramanhola, par de luvas etc…sem falar no público na beira da estrada, outro mundo.

Pedro (Nafuga): O que o ciclista brasileiro, até com experiencia, mais sente ao competir com o ciclista europeu? Por que alcançar resultados é tão difícil?

Rafael Andriato: Primeira grande dificuldade é o inverno. Treinar e competir com temperaturas abaixo de zero grau, ou perto disso, é complicadíssimo, com chuva então nem se fala. Depois existem varias adaptações a serem feitas, o estilo de corrida é diferente, consequentemente os treinamentos mudam, a alimentação…e as quilometragens das provas são muito maiores que no Brasil, de 100 a 200 km.

Chateauroux Classic de l’Indre Trophee Fenioux, 2012.

Lauro (Cornetas): Você teve sucesso como sprinter, mas depois migrou para embalador nos últimos anos. Como foi essa adaptação e quais foram as principais dificuldades? E qual dos dois dava menos trabalho p/ embalar: Mareczko ou Pozzato?

Rafael Andriato: Na verdade fui “obrigado” a mudar um pouco minhas características já que as equipes que integrei tinham outros sprintistas, conseguir um espaço nas chegadas era algo bastante difícil, então busquei melhorar meu desempenho em subidas para poder sprintar em provas com percursos mistos, onde o pelotão era menor nas chegadas.
O Pozzato deixou de sprintar há muito tempo, não tive o prazer de embala-lo, já o Mareczko embalei em várias provas onde, na grande maioria das vezes, ele foi o vencedor. Mas é um cara difícil de lidar… ouvir um obrigado da boca dele é raro.

Digital Cycling: Em 2017 você estava bem fisicamente, mas sofreu muitas quedas que podem ter atrapalhado nos treinos e também nos resultados. Você acredita que a diminuição no tamanho das equipes irá influenciar, de alguma maneira, a segurança no pelotão? Você acredita que o ciclismo ainda precisa melhorar a segurança das competições apesar de todos os avanços feitos até o momento?

Rafael Andriato: 2017 foi um ano bastante difícil pra mim, não consegui ter nenhuma constância nos treinamentos e competições durante todo o primeiro semestre.
Acredito que a diminuição no número de atletas por equipes, irá diminuir as quedas mas isso teve um ponto negativo…deixou muito ciclista desempregado. Muitos se viram obrigados a migrar para equipes menores, já que, devido a diminuição, todas as equipes World Tour e Pró-Continentais passaram a ter um elenco menor a partir deste ano, principalmente as Pró-Continentais que tem agora 16, 17 atletas. O número total de ciclistas profissionais diminuiu bastante e junto as possibilidades dos mais jovens se tornarem profissionais.

Estela Farah (ESPN): Rafael, como você avalia o cenário do ciclismo nacional na atualidade e o que você acredita ser necessário para um melhor desenvolvimento?

Rafael Andriato: No momento o cenário é ruim, a Venezuela com todos os problemas que passa ainda manteve as duas voltas internacionais, Vuelta Tachira e Vuelta Venezuela, já o Brasil está sem nenhuma desde 2017 e pelo visto este ano também não.
Para melhorar o cenário só voltando a ter competições da UCI e, se possível, que elas sejam televisionadas, como era Copa América, a Volta de SP, Copa da República, entre outras. Quem é visto é lembrado e hoje, sem provas internacionais e nenhuma transmissão ao vivo, está cada vez mais difícil captar patrocínio, as equipes estão acabando, bons ciclistas deixando o esporte.

Papillon (Pelote): Rafael, qual a prova mais sofrida? Aquela que te custou mais a fazer/completar e por qual razão? E você alguma história de bastidor curiosa ou relevante que possa contar?

Rafael Andriato: Giro d’italia 2013 foi a minha única grande volta na carreira e conclui-la não foi nada fácil. A emoção e a realização de estar competindo uma das competições mais importante do mundo me fizeram superar todas as dificuldades que somente uma volta de 3 semanas pode trazer.
Um fato curioso foi neste mesmo Giro. Estávamos na penúltima etapa e fui disputar o quinto lugar em uma meta volante (já tinham 4 escapados) com o Mark Cavendish. Eu era líder da geral de metas volantes e queria somar mais um pontinho pra tentar me distanciar na liderança, mas o Cavendish era líder da camisa por pontos e a meta volante também soma pontos para esta camisa, foi aí que rolou uma pequena treta :). Disputamos o sprint lado a lado e acabei perdendo por muito pouco, logo depois começou uma discussão onde os companheiros de equipe dele e os meus também entraram no meio. Ele alegava que eu deveria ter avisado que iria disputar o sprint “como assim?” hahaha…foi bizarro, mas depois tudo se resolveu e ele, após a última etapa, até apertou minha mão e me parabenizou pela vitória final das metas volantes. Eu venci a geral mas ele foi o segundo, mas acho que ele queria levar esse premio também…

Andriato teve a honra de subir no pódio final do Giro da Itália 2013. Ele foi o vencedor do prêmio meta volante do Giro da Itália 2013, como o atleta que mais pontuou nos sprints intermediários.

Edwin Contreras (Cornetas): Recentemente, o Brasil contava com algumas provas no calendário UCI (Tour do Rio, Voltas do PR, SC e RS), mas nos últimos 2 anos nenhuma foi realizada. Você acredita que um dia teremos uma volta ciclística duradoura no nosso País?

Rafael Andriato: É o que eu e todos os ciclistas brasileiros mais queremos, que volte a ter Volta de SP, PR, SC, RS, Tour do Rio, Copa América, Copa da República… Época boa do ciclismo nacional quando tinham todas essas competições UCI.

Andriato, pela seleção brasileira, durante a disputa do Tour de San Juan 2018.

Gio Santana (Cornetas): Rafael, quando você voltou para o Brasil, em 2016, sua ideia era a de participar das Olimpíadas. No final, o Brasil ficou com apenas duas vagas e você não foi um dos que disputaram a prova. Você poderia nos dizer o que aconteceu?

Rafael Andriato: Acredito que o percurso não me favorecia, era realmente muito duro, mas em Tokyo o percurso será bem mais fácil e irei em busca da tão sonhada vaga olímpica.

Bruno (País do Ciclismo): Rafael, na sua opinião qual o equipamento que mais faz diferença no rendimento da bicicleta? Grupo? Rodas? Quadro, outro…

Rafael Andriato: Quadro e rodas.

Bruno (País do Ciclismo): Qual o feito que mais te orgulha na carreira até aqui?

Rafael Andriato: Vencer a primeira etapa do tour de Hainan e me manter líder da competição durante duas etapas, diante de equipes World Tour como GIANT, LAMPRE e ASTANA…foi um feito e tanto para um brasileiro.

Andriato vence a etapa de abertura do Tour de Hainan (2016).

Bruno (País do Ciclismo): Quem é ou foi o maior sprinter com quem você bateu guidão?

Rafael Andriato: Com Mark Cavendish em uma meta volante do Giro d’italia.


Gostaríamos de agradecer ao Rafael Andriato pelo tempo dedicado para responder a todas as perguntas. Valeu!!

Em breve teremos outras entrevistas.

Participaram da entrevista amantes do ciclismo (vulgo cornetas do ciclismo), sendo que alguns possuem blogs, sites, contas no Twitter, Facebook e Instagram….sigam!

Veja a relação abaixo:

Digital Cycling: Twitter | Facebook | Instagram

Nafuga: Site | Twitter

País do Ciclismo: Twitter | Instagram

Pelote: Site | Facebook

Carlos Fanucchi: TwitterInstagram