Philippe Gilbert venceu a décima sétima etapa da Vuelta a Espanha. A etapa teve 219 km e velocidade média de espantosos 50,6 Km/h. Histórico para uma prova de mais de 200 km.
De tempos em tempos acontecem etapas como essa. Quem não se lembra da etapa de Formigal na Vuelta de 2016 quando Nairo Quintana se aproveitou do movimento de Alberto Contador para deixar para trás Chris Froome, sua grande ameaça para a disputa daquela Volta?
Cada uma dentro das suas particularidades, hoje tivemos uma etapa com intensidade parecida, porém não estava só em jogo a liderança, mas sim, várias posições do top 10, incluindo aí a disputa pelo pódio que, definitivamente, foi o que salvou o atual líder, Primoz Roglic.
Antes da etapa tínhamos Quintana em sexto com quase 8 min de desvantagem para o líder geral e ao final dela o colombiano saltou dessa incomoda posição para a segunda, 24 segundos a frente de Alejandro Valverde que caiu para terceiro.
Foi exatamente a presença de Quintana na fuga que acabou favorecendo Roglic. Nem ele, nem a Jumbo, esperaria que correriam riscos nessa etapa. Mas logo após a largada, vestido de verde, como o terceiro na classificação por pontos, lá foi Quintana junto com outros 47 ciclistas. Estava tudo bem, Quintana estava longe na classificação, mas o número de atletas em fuga era exagerado e o que a Jumbo não contava era com a presença de 6 ciclistas da Deceuninck-Quick Step, 5 da Sunweb, além de 4 da Movistar, o que, na prática, fazia a fuga ter mais “bons motores” para levar do que o próprio grupo do líder da Vuelta.
E a realidade começou a aparecer quando a Jumbo Visma passou a demonstrar, com metade da etapa ainda pela frente, que, devido ao vento e a força da fuga, eles não conseguiriam controlar a distância sozinhos.
Com 120 quilômetros de etapa a fuga abria quase 6 minutos, Quintana já figurava como segundo na geral virtual, e foi aí que a sorte de Roglic começou a mudar. Não vendo outra alternativa, a Astana de Angel López (estava em quarto geral) e a UAE de Tadej Pogacar (até então, em terceiro) colocaram alguns gregários para ajudar no que já não era mais um problema somente da Jumbo, mas deles também. Quintana ameaçava a posição de seus capitães.
Com a entrada da UAE e da Astana a diferença se estabeleceu, chegou a cair um pouco, mas depois girou sempre em torno de 5 min, o que, apesar da perda de posição para o colombiano Nairo Quintana, mantinha, tanto Angel López, quanto Pogacar, com chances para seus interesses na geral.
Além de Quintana, na fuga se davam bem Wilco Kelderman (oitava no início da etapa) e James Knox (11º). Kelderman lutando para entrar no top 5 e Knox para entrar no top 10. Deceuninck-Quick Step, Movistar e Sunweb, por conta disso, aceleravam para aumentar a diferença.
Atrás a surpresa foi com a Movistar que, em um determinado momento, acelerou com Pedrero na intenção de deixar Roglic sem gregários. De fato aconteceu, mas não pareceu no restante da etapa que precisariam disso, já que a fuga claramente estava abrindo e a Jumbo já não fazia tanta diferença na etapa. Nesse momento Roglic, que ficou sem companheiros de equipe, já estava contando com o trabalho de outras equipes, como a Astana, a UAE e, depois, também com a Bora que entrava na ajuda tentando salvar o top 5 de Majka.
Nos últimos metros da etapa, a Deceuninck fez o que ela sabe fazer de melhor, trabalhou estrategicamente utilizando seu maior número de atletas. Primeiro atacaram com Stybar, depois, quando ele foi alcançado, Sam Bennett (Bora) lançou seu sprint a mais de 500 metros, muito distante e foi presa fácil para Philippe Gilbert, esperto como uma raposa, que saltou em sua roda, esperou o momento certo e depois partiu para a vitória.
Com final tão veloz cortes aconteceram, Quintana acabou chegando 10 segundos depois do vencedor Gilbert, mas o objetivo estava concluído e ele agora está na segunda posição, há 2min24 do líder. James Knox, que é o melhor colocado da Deceuninck Quick-Step, aparece agora na oitava posição, alcançando o esperado top 10. Já Wilco Kelderaman, da Sunweb, subiu duas posições e está agora em sexto, menos de 1 min do quinto lugar.
O grande prejudicado do dia foi o polonês Rafal Majka que caiu de quinto para sétimo lugar. A Bora-hansgrohe demorou muito para colocar alguns de seus homens para ajudar na perseguição e acabou pagando da pior forma por essa falha. O dia não poderia ser pior: perdeu com Sam Bennett e com Majka.
Nas entrevistas pós etapa Alejandro Valverde, parecia feliz com a tática da equipe que agora os faz figurar com seus dois principais ciclistas no pódio, mas fez questão de deixar claro que o estrago poderia ter sido muito maior para o líder geral da Vuelta não fosse a grande “ajuda” da Astana durante a segunda metade da etapa. E disse mais: “Amanhã temos mais prova, eu não fiz força hoje, muitos fizeram”.
Sorte a de Roglic que não perdeu tempo para seus principais adversários apesar do grande vacilo.
Amanhã a Vuelta segue com uma etapa complicadíssima. Serão 4 montanhas de categoria 1.
Conclusão: hoje eles correram como se não houvesse amanhã.