Girmay brilha!

Gesto de respeito de Van der Poel ao Eritreu em meta

Acabamos de presenciar um daqueles momentos que ficam para a história, e que como qualquer boa história, nem sempre termina com um final realmente feliz.

“Bini” como é carinhosamente conhecido em seu círculo mais próximo, acaba de colocar seu nome, da sua equipe e principalmente do seu país no tabloides mundiais por uma vitória histórica no Giro de Itália, com um desfecho não tão feliz.

Depois de uma primeira semana de Giro, onde tivemos emoções desencontradas, como o abandono de um dos grandes favoritos mas também com a Maglia Rosa pelo outro Lopéz, o Giro trouxe uma nova disputa que, ao que tudo indica, veremos ainda mais daqui pra frente: Biniam Girmay vs Mathieu Van der Poel.

Van der Poel e Girmay sprintando pela etapa 1

Seus feitos já tem um peso enorme por si só, mas a atenção que trouxe nestes dois últimos anos, linkada com o excelente trabalho nessa temporada da sua equipe Intermarché, fez com que Girmay mostrasse ao mundo o poder da Eritreia e da África. Em etapas como a de ontem, onde uma das maiores responsáveis pela vitória foi justamente o trabalho em equipe em um momento decisivo da etapa, algo que faltou ao próprio Van der Poel que ficou sem equipe ao final da última subida e teve que responder aos ataques e contra-atacar em primeira pessoa.

Biniam traz com vitórias como esta e na Gent-Wevelgem muitas questões de cunho social em um esporte onde praticamente não se fala sobre: racismo. Existe racismo no ciclismo? É racismo social, de classe, de cor, de etnia? Por que não vemos tantos ciclistas negros no pelotão profissional? Se é assim no ciclismo masculino, como será no feminino?

Binian Girmay – Vencedor da etapa 10 do Giro

O ciclismo é um esporte dominado majoritariamente por países europeus, liderado pelo país que teve o ciclista mais galardoado do mundo, o belga Eddy Merckx. E a Bélgica, como muitos sabem, foi responsável por uma das colonizações mais sangrantes, de onde posteriormente, pode aumentar seu império financeiro financiado pelo continente africano e responsável por um massacre sem precedentes no palco, onde hoje, o ciclismo mundial pode ver um dos maiores espetáculos do ciclismo, o Tour da Ruanda.

Girmay talvez sem conhecimento, levantou bandeiras que serão debatidas e comentadas daqui pra frente, muitas delas em que a maioria do pelotão nem se quer tem opinião formada, mas que eu posso garantir para vocês será pauta importante assim como o ciclismo feminino vem sendo e desde aqui, só podemos torcer por mais vitórias de Girmay e muitos outros que possam vir e ajudar a igualar uma desigualdade secular.

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