Tadej Pogacar o mais completo ciclista do milênio

O texto a seguir é uma adaptação da matéria de Raymond Kerckhoffs, publicada no dia 4 de abril de 2023 no wielerflits

Depois de vencer o Tour de Flanders 2023, que teve um dos maiores percursos da história, com 273,4 km, Tadej Pogacar comprova que é ciclista mais completo dos anos 2000.

Sem demonstrar qualquer dificuldade para andar nos paralelepípedos e muros de Flanders, o bicampeão do Tour de France conseguiu conquistar seu quarto monumento (três diferentes) dando mostras de sua incrível versatilidade.

Saiba mais sobre os 5 monumentos aqui!

Provas planas, com altimetria elevada, contra-relógio e agora também um dos melhores ciclistas das mais difíceis clássicas belgas, as da região de Flanders.

Depois de muito, muito tempo, enfim temos novamente um campeão que pode rivalizar com o melhor em qualquer terreno.

Pogacar agora faz parte de um seleto trio de ciclistas que conquistaram o Tour de France e também o Tour de Flanders. Além dele, apenas Louison Bobet e Eddy Merckx conseguiram vencer as duas provas durante suas carreiras.

Pogacar (24 anos), vem demonstrando, desde 2020, quando conquistou o seu primeiro Tour de France, atuações fortíssimas. No entanto, seus ataques no Oude Kwaremont, o mais longo muro da disputa em Flanders, são a demonstração mais clara da força que o esloveno possui.

Tal demonstração de força só foi possível também devido a uma incrível virtude de Pogacar: Ele é extremamente astuto e rapidamente se dá conta de seus erros.

No ano passado, vimos várias vezes ele se colocando mal na entrada dos principais muros, o que acabou dificultado a tentativa de se lançar solo no final da prova. Já esse ano ele estava sempre nas melhores posições. E, estando bem colocado, deixou claro o quão difícil é manter-se em sua roda.

E no Oude Kwaremont foi onde ele pôde fazer a principal ação:

“Esta subida é a que melhor se adapta as minhas habilidades. É uma subida difícil e também a mais longa da prova”. Disse ele, referindo-se ao muro de 2,1 quilômetros de extensão.

Os outros muros são, segundo ele mesmo, curtos demais para que ele consiga fazer diferença devido suas características. Apesar disso, Pogacar não demonstrou qualquer problema em outros conhecidos e decisivos muros da prova, como o Koppenberg, Taaienberg e o Paterberg. Estava sempre muito bem posicionado e quando não fizeram o ritmo ser forte, foi ele mesmo que o fez.

Pogacar em sua última passagem no Oude Kwaremont, rumo a vitória.

O diretor esportivo dos Emirados Árabes Unidos, Aart Vierhouten, já havia dito ano passado que era um grande erro não colocarem Pogacar como o principal favorito para Flanders. Há algumas semanas, em entrevista para mídia holandesa ele disse: “Tadej já era o mais forte no Tour de Flanders no ano passado, Mathieu era o mais frio. Ano passado, após a prova, quando olhamos para tudo o que aconteceu, ele mesmo disse: “Voltarei aqui para vencer”.

“Os paralelepípedos lhe caem bem. Já no ano passado ele havia feito o tempo mais rápido da história no Oude Kwaremont. Com isso, não há mais o que se dizer.”, enfatizou.

Ele provou isso novamente este ano, realizando seu primeiro grande ataque a 55 quilômetros da chegada no Oude Kwaremont. Abriu cerca de 15 segundos do pequeno grupo de perseguição que se formou, mas percebeu que poderia “fritar” caso continuasse sozinho.

Pogacar em seu primeiro grande ataque. Credito: Pool/Getty Images

Tirou o pé e, como resultado, Wout Van Aert, Laporte, Van der Poel e Pidcock puderam neutraliza-lo.

Mas 37 quilômetros depois, em seu muro preferido, ele conseguiu se livrar de Mathieu van der Poel, que era o único que ainda estava com ele, e pôde partir sozinho. E sozinho foi um contra-relógio, e como sabemos Pogacar também é muito bom nisso.

Um pouco de Pogacar

No dia 31/03/2023, antes do Tour de Flanders, portanto, o jornal diário belga, Het Laatste Nieuws, fez uma entrevista com Pogacar e nela fez com que ele respondesse quais eram os melhores ciclistas em várias situações:

Ciclista com melhor aceleração: Mathieu van der Poel.

Melhor aceleração sentado: Wout van Aert. Pogacar: “Vou ter que cansá-los para diminuir a aceleração.”

Melhor velocista: Jasper Philipsen e Tim Merlier.

Melhores habilidades em descidas: Tom Pidcock, Mathieu van der Poel, Wout van Aert, Matej Mohoric e Luca Mezgec. Pogacar: “Todos malucos.”

Melhor Diretor Esportivo: Allan Peiper.

O mais inteligente: Wout van Aert. Pogacar: “Wout é mais calculista do que Mathieu.”

Maior ciclista: Filippo Ganna.

Quem tem o maior conhecimento de pista: Matteo Trentin .

Ciclista com o estilo mais bonito: Mathieu van der Poel e Alejandro Valverde .

Ciclistas mais versáteis: Julian Alaphilippe, Wout van Aert e Remco Evenepoel .

Ao término e percebendo que Pogacar não havia mencionado a si próprio, questionou e ele respondeu com modéstia: “Acho que sou bom em versatilidade. Ou talvez em resistência. Eu gosto de competições difíceis. Ufa, eu realmente não sei de nada.”

Como ele não sabe, nós podemos dizer a ele: Ele é simplesmente o melhor ciclista deste milênio. Alguém que disputa a vitória das principais provas e também das secundárias. Alguém difícil de bater nas longas subidas e que domina as colinas das Ardenas. Um ciclista que está cada vez mais se destacando nos clássicos mais disputados. Já venceu ‘Il Lombardia’ duas vezes, em 2021 venceu Liège-Bastogne-Liège e, agora, Flanders.

Se ele está indo para os cinco monumentos?

“Já ganhei os três que são mais fáceis para mim. Milan-San Remo e Paris-Roubaix são muito mais difíceis de vencer para as minhas características.”

No entanto, quando Pogacar decide algo, nada é impossível. Ele é um animal de corrida, alguém que encontra sua adrenalina nas competições e tira o melhor de si sob pressão.

Michael Matthews (atualmente ciclista do Team Jayco AlUla), que é seu vizinho e melhor amigo em Mônaco, disse ao WielerFlits que Pogacar traz a diversão de volta ao pelotão: “Tadej só se diverte no ciclismo. Depois de um período em que todos estavam estressados ​​e mal curtiam o esporte, ele traz de volta o sorriso.”

No entanto, Pogacar devolve a bicicleta muito mais do que apenas o sorriso. Ele ousa correr com o coração independente do que mostra o computador em sua bicicleta. Na era dos “ganhos marginais”, em que os números muitas vezes determinam o rumo, ele ousa competir com a mente aberta como os grandes e antigos campeões.

Ele é um passista que luta como um Flandrien. Um escalador acelerando sobre os paralelepípedos. Um favorito a qualquer Grande Volta de 3 semanas que atinge pico de forma nos clássicos. Um contra-relogista que se mantém firme no sprint.

Resumindo, Tadej Pogacar é o melhor e mais completo ciclista de estrada deste milênio até agora.