Segundo dados do Strava, Nibali colocou Evenepoel sob pressão antes de queda

Quais foram as causas que contribuíram para a queda do prodígio belga Remco Evenepoel?

A Il Lombardia tem como palco as sinuosas e estreitas estradas entre Bergamo e Como, na Itália. A prova tem 231 km, mas é somente faltando 60 quilômetros para a chegada que a corrida começa a se definir com a chegada das subidas mais duras.

O percurso da Il Lombardia.

A primeira escalada é o Muro di Sormano que, como o próprio nome diz, é uma parede. São apenas 1,9 km, mas a média é de quase 16%, e a máxima chega a 27% de inclinação. O muro serve apenas para selecionar e é o que sempre acontece. Depois dele, as duas próximas escaldas são nos últimos 20 quilômetros da prova, primeiro o Civiglio que tem 4,2 km com quase 10% de média e, depois, a San Fermo dela Battaglia com 2,7 e 7,2 de média. Portanto, são subidas curtas, porém inclinadas e da mesma forma que elas são inclinadas para subir, também são para descer, com um detalhe, são extremamente técnicas.

Leia mais:
Como a Lombardia foi vencida na última década

Em 2015, o italiano Vicenzo Nibali, reconhecido por suas qualidade para descer, tentou, sem sucesso, escapar durante a subida do Civiglio. Chegando na parte mais alta, com os ciclistas acreditando que teriam um alívio, Nibali lançou um ataque, fez uma descida épica e partiu solo para a vitória.

Veja como foi:

A estratégia da Trek na Il Lombardia de 2020

O grupo que foi selecionado no Muro di Sormano era formado por George Bennett (Jumbo-Visma), Remco Evenepoel (Deceuninck – Quick Step), Vlasov e Fuglsang (Astana) e Ciccone, Mollema e Nibali (Trek).

Apesar de estarem em 3, ficou claro que eles eram os mais fracos na subida e por isso precisavam encontrar uma forma de fazer valer a superioridade numérica.

Ciclistas da Trek sofrendo no Muro di Sormano. Foto: Dario Belingheri/LB/RB/Cor Vos © 2020

E como fazer? Eles precisavam atacar. Causar confusão no grupo, fazê-los discutir quem faria a perseguição. E, caso pegassem, tentariam sair com outro. A estratégia era essa.

Chegando ao topo do Muro, prestes a iniciarem a descida, Nibali e Mollema conversavam e eram vistos de perto por Remco que tentava ouvir o que era dito.

Não sabemos o que foi dito, o fato é que se estavam sofrendo na subida, precisavam começar a colocar o grupo sob pressão na descida.

O que aconteceu?

Terminando a conversa entre a dupla da Trek, Nibali foi para a frente do grupo e resolveu dar uma aula de como se desce.

A resposta sobre o ritmo que eles estavam descendo veio com o upload da atividade do italiano no Strava. Os dados mostram que ele estava mais rápido do que nunca. Nibali fez o KOM do segmento dos primeiros 5 quilômetros da descida, sendo que, na primeira pequena reta, ele atingiu a máxima de 83 Km/h. A média da velocidade no segmento foi de 61 Km/h, em meio a curvas e mais curvas.

83,2 Km/h!

Segundo a estimativa do Strava, na descida, ele seguia descendo muito rápido, com picos de potência muito altos e Evenepoel, ao contrário dos outros ciclistas que seguiam a roda do italiano, começou a ficar um pouco para trás, sendo obrigado a fazer a sua própria linha e tentar não perdê-los.

Forçaram Evenepoel ao limite e por isso ele errou naquela ponte.

Você pode verificar tudo sobre a queda aqui.

Aprendizado

Remco Evenepoel conheceu, até hoje, a bela face deste esporte. Esporte esse que só vinha lhe dando boas histórias.

Infelizmente, o ciclismo também é feito de histórias trágicas causada por tombos, muitas vezes causados pelo limite técnico e mental no qual os atletas chegam.

Nas disputas os rivais estão sempre tentando colocar um ao outro no limite e, até então, era Evenepoel que estava  colocando todos no pelotão sob pressão.

O que Nibali fez ontem na descida do Muro di Sormano, foi feito porque em uma corrida de bicicletas todos estão tentando tirar vantagem das armas que têm.

Quem não se lembra, em 2016, no Giro da Itália, quando Nibali imprimiu um ritmo fortíssimo no início da descida do Agnello levando Kruijswijk, o então líder da prova, a cometer o erro que o fez perder a volta?

Veja a matéria da etapa onde Kruijswijk caiu

São lições difíceis que Evenepoel, por mais prodígio que seja, vai aprendendo.

Em provas como a Il Lombardia, nem sempre a juventude e a força o levarão a vitória. A experiência dos velhos guerreiros sempre será algo que valerá muito na disputa das provas mais duras e históricas do ciclismo mundial.

E quando se fala em downhill, atualmente Nibali, Sagan e Alaphilippe estão em um nível diferente. Eles têm algo que os outros não têm na cabeça.